domingo, 3 de março de 2013

UMA MISSÃO DE AMOR

Episódio I:A bicicleta 



   Norton era um jovem de doze anos. Indeciso, pés fora do alcance do chão... Um sonhador.  Nos seus sete anos de idade ainda no primário foi questionado numa aula sobre o que ele gostaria de ser quando crescer. Todas as crianças responderam felizes da vida: "Eu quero ser policial", "Enfermeira”, "Bombeiro"... Mas Norton ali ficou sem saber o que ele seria e por que ele teria que ser alguma coisa. Ele queria brincar. Ele era feliz. Até que a professora o pergunta: "E você Norton, o que você quer ser quando crescer?". Norton fica feliz por ter sido indagado e lembrado em meio a tantas crianças verbosas querendo aparecer e citar seus desejos. O jovem fica uns 5 segundos que pareciam uma eternidade e responde com um sorriso: "Eu quero levar uma mensagem!". Logo toda a turma se gargalhando começa a sacanea-lo chamando-o de carteiro e a professora fez uma cara estranha e o manda elaborar esse desejo. Norton com um sorriso amarelo, porém com a leveza de uma criança de sete anos responde: "Ué, eu não sei, tia! Acho que isso já está bom". A professora levemente emocionada pergunta: “O que está bom Norton? O menino responde: “Isso, Tia! Está todo mundo rindo. Era isso que eu queria". As crianças se dispersam da aula começam a brincar e a professora o chama no canto e diz: "Então essa é a sua mensagem? Fazer rir? Que bonito, mas isso não é uma profissão, Norton". Norton curiosamente pergunta: "Tia, então o que fazem aquelas pessoas no circo e na TV? Às vezes eu escuto música e isso me deixa feliz também". A professora se silencia por alguns segundos e o diz duas coisas: “Baixinho, eu vou chamar seus pais aqui para falarmos sobre esse nosso assunto. E outra coisa que você só vai entender quando for mais velho: 'Não confunda alegria com felicidade'. Agora vai lá brincar". O garoto abriu um sorriso natural dele e voltou para as outras crianças. Ela achou que esse assunto nunca mais fosse voltar e de fato não voltou, mas a criança tem uma memória boa e Norton guardou cada palavra e cada gargalhada da molecada e o levou durante anos.

   Voltando aos seus doze anos, Norton já no ginásio relativamente mais maduro, lia mangás japoneses para impressionar as mocinhas e jogava basquete pra ser diferente dos meninos fissurados em futebol, mas ele ainda carregava um fardo de não saber o que ele gostaria de ser quando crescesse. Sua mãe era empregada doméstica e seu pai contador. Eles eram separados, porém muito amigos. Norton ficava um pouco com os dois e o que ele observava sempre eram suas aparências tristes e cansadas. Daí ele passou a reparar em todos ao seu redor e chegou a incrível e inocente conclusão de que todo mudo era separado.  A todos que ele perguntava ganhava um abraço sem explicação. Ah! Ele reparava também que as pessoas relaxavam sempre com a TV ligada e dançavam em festas. Ali ele enxergava alegria ou alivio.
   Em meio a tantas perguntas e questionamentos sua mãe o levou ao médico para uma consulta de rotina. O médico o trata tão bem que Norton se lembrou dos seus amigos aos sete anos e teve o grande estalo: "Espera aí, vou ser pediatra!". Ele corre pro seu pai e o vem com essa noticia. O senhor Roberto rapidamente se lembra da conversa que teve com a professora e preocupado pergunta: "Você tem certeza disso meu filho? Você sabe o que um médico faz? Vamos fazer o seguinte essa semana nós vamos passear e você vai anotar e me dizer o que foi legal ou não, okay?". Norton excitado com a aventura responde que sim. Dentre os lugares frequentados eles foram a um orfanato, ao escritório do pai e a um hospital para visitar a sua tia. O nome dela era Luze e ela tinha câncer.
  
   Lá além dos adultos também tinham crianças e foi aí o seu choque de realidade. Norton não entendeu muito bem, mas em poucas semanas tudo mudou. Sua tia faleceu, seus pais não eram mais amigos e Norton achou que todas as crianças haviam morrido também porque a doença era a mesma de sua tia e uma depressão se instalou naquele moleque totalmente feliz.
   Seu pais e familiares percebendo a doença da criança os levaram no médico e ele o indicou coisas que o fizessem sorrir. Daí a família lhe deu uma bicicleta. Norton ainda inerte, mas agradecido começa a aprender a andar na sua bike até que ele consegue e sem rodinha assim tudo em um dia. Ele abre um sorriso e abraça o pai, mas Paulo precisa partir por que já é tarde. Porém eles ainda precisavam fazer uma coisa.
   Norton sobe com sua bicicleta e em sua casa tem algumas pessoas estranhas vestidas de branco. Eles os dão um banho com umas folhas verdes e o põe para dormir em seguida. Eles disseram que era pro seu bem e acenderam uma vela. Eles ficaram no apartamento até umas 23h da noite. 23h30min Norton vai pra cama, 23h50min Norton pega sono. As 02h23minh um vento bate na janela e a vela cai. O chão era de carpete e foi tudo muito rápido. Norton como um anjo dormia e como um ser humano acorda e a última coisa que ele vê no momento são os vultos da sua mãe entre o fogo e a sua bicicleta derretendo.

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