(Uma belíssima homenagem de Edgar Moura ao Millôr Fernandes em seu Livro "50 Anos Luz, Câmera e Ação")
sábado, 16 de março de 2013
UM PREFÁCIO PARA O DO MILLÔR
A gente sempre escreve para alguém ler. Pessoalmente. Não para o tal do"público", que os artistas de TV dizem amar tanto, abstratamente, mas que depois tratam aos pontapés quando eles vêm, com suas filhinhas, pedir um autógrafo na churrascaria. Não. Escreve-se para uma pessoa particular. O João Ubaldo escrevia para o Glauber Rocha ler. Morreu um, deprimiu-se o outro. Na realidade, escreve-se para um outro escritor. É uma espécie de vingança — "de tanto ler, acaba-se escrevendo". Dependendo da pretensão ou da sorte, pode-se atingir o leitor-alvo. Algumas vezes a pretensão é grande demais. Woody Allen, quando acusado de ter Deus como modelo, disse que a gente sempre precisa copiar alguém. O próprio Deus deve ter escrito a Bíblia para alguém mais importante do que a gente ler. Quanto à sorte, ela depende da morte. Se você não viver na mesma época do seu modelo, terá algumas dificuldades. Por exemplo,alguém que escreve para o Shakespeare ler nunca será lido pelo seu ideal. Falta de sorte. Eu escrevo para o Millôr ler. Sorte a minha, azar o dele.
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