sexta-feira, 31 de março de 2017

Capa de Proteção

Moro no Brasil e hoje sei que moro muito mal. Em 30 anos nunca fui assaltado, mas não é graças a mim e sim ao divino pra quem acredita ou a sorte pra quem pensa o contrário. Uma sensação de impunidade em todos os cantos, desde o alto escalão, desde os ternos e gravatas até nas ruelas e avenidas. Definitivamente cheguamos num ponto que nenhum lugar é seguro, nem no asfalto e nem no morro. Assustador.

Quando eu era menor de idade minha mãe dizia pra eu sempre ficar em pontos de ônibus com bastante pessoas porque era mais difícil de ter assalto, hoje precisamos criar uma nova estratégia. Dentro das escolas, dentro de casa... nenhum lugar é mais seguro.
Parece que virou moda, já tive três tios e sabe - se lá quantos primos foram presos. Até minhas famílias foram corrompidas e digo corrompidas porque ninguém nunca foi paupérrimo. Esse caminho foi fruto de escolha a princípio fútil, enfim, não sei da vida de ninguém.
Semana passada duas pessoas foram assaltadas na minha frente e mais o vez o tal do divino me salvou, os bandidos nem olharam pra mim. Mês passado houve um sequestro relâmpago ao lado da minha casa, essa semana meu tio foi assaltado, levaram o carro dele e um amigo músico também. Ele pediu socorro pelas redes sociais, pude sentir como se estivesse acontecendo comigo... Comigo... É, comigo. Ainda nessa semana, ontem pra ser mais exato, durante a manhã houve tiros na avenida onde minha mãe mora, a noite a jovem vizinha foi assaltada na porta de casa. Lugar onde chego sempre com meus instrumentos... Me dói só de pensar. Escrevo aqui porque nasce uma sensação maior que a de impunidade no meu coração. Me sinto na fila do abatedouro onde em qualquer momento serei o próximo.
O medo chegou e tá aqui bem guardado comigo.

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