sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A Ladra

Essa semana fui assaltado por uma mulher.
Ela parou do meu lado e um silêncio constrangedor pairou no momento. Eu solicito que só a cumprimentei. Ela sorriu e o silêncio tornou a ser constrangedor, angustiante, mas divertido. Ela cantou uma linda canção, a capela mais bonita que já ouvi. Gargalhamos.  Depois sorriu decidida e se foi. Cinco minutos depois eu percebi que o meu coração não batia mais. Ele não mais me pertencia. Ela o havia roubado.


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Apropriação

Hoje acordei com um trecho de livro lido pelo meu amigo de quarto que falava sobre apropriar - se das dificuldades e não a temesse. Logo após uma amiga desabafou uma situação bastante delicada sobre apropriação cultural e por fim, no show, um senhor aparentemente muito educado e fino nos pediu pra tocar uma música. Nós a trocamos e no final ele pediu um bis com a mesma. Antes de tocarmos a cantora explicou que a música se tratava de um romance. Dim Di. Uma declaração de amor onde o homem se apropria da natureza pra mensurar a beleza e o desejo pela amada. 
Naquele momento, com certeza o velho bêbado russo não sabia do que a música se tratava, mas algo o levou à algum lugar que eu pude ver. Ele se ajoelhou na nossa frente transtornado e depois abaixou a cabeça na mesa. A princípio eu achei que estava chorando, mas não, ele sorria talvez lembrando de alguma decepção. Era um sorriso amarelo, mas experiente. Superado. Deve ter sido uma boa história e naquele momento eu me desapeguei dos meus e me apropriei do seu sentimento e entendi que os meus não são nada ou é apenas uma gota desse oceano de histórias. Entendi que o ser humano precisa desse caos e dessa reviravolta. Precisamos da dificuldade de nos entendermos para nos habilitar ao outro. Entendi que a vida é uma apropriação de desejos e escolhas.

sábado, 16 de agosto de 2014

Liberdade

Acho uma lástima pessoas que pensam que um relacionamento é uma prioridade e prisão. Algo tão primitivo, primata e nós ainda não sabemos lidar com isso.
Relacionamento é liberdade e parceria onde o primordial é a confiança e a sua plenitude para o outro e consigo. É entrega e desprendimento.
Eu entendi o que era liberdade aos 9 anos quando fiquei em recuperação na escola. Aflito estudei feito um cão pois todos os fins de semana eu ia pra casa do meu pai e não queria perder o próximo. Eu estava de castigo e estudei. No momento da prova eu arrebentei. Chegando em casa, sério meu pai estava me esperando e sério ele permaneceu. Eu eufórico disse - passei! Passei de ano! - ele sentado olhou como se fosse algo normal e disse - Não fez mais que sua obrigação. Então sairemos em 1h.  A mochila já está arrumada? - ali eu entendi o que era liberdade.

domingo, 3 de agosto de 2014

Prêmio

Me lembro como se fosse a dias atrás. Eu com 17 anos indo procurar meus primeiros pratos pra tocar c/ minha banda de rock, a saudosa "unfeal".
Lembro perfeitamente de rodar toda a rua da carioca e constituição a procura de um prato cujo qual eu nem sabia o que queria. Dentre baquetadas e cacetadas dos preços eu avistei um prato com um som diferente do habitual, não brilhava como os outros e não ressoava. Os moleques que estavam testando diziam que todo baterista tinha que ter um sabian na vida, mas aquele som era muito estranho. Seco. Duro... Feio.

Eu curioso esperei eles saírem e fui lá xeretar. De fato não brilhava e não parecia nada c/que meus ídolos do rock usavam. Tinha explosão, mas vibrava feitos os pratos do Pelado ou do Yuka, por exemplo. O vendedor brincou e disse que era prato e preço de gente grande e me empurrou um Orion. Excelente por sinal! Quando vi o preço me assustei. Um prato valia mais do que um set inteiro!? Daí ele finalizou brincando que quando eu ouvisse uns velhotes lá eu iria entender o timbre e o preço. Me senti frustrado. Eu nem sabia o que era Internet naquela época e muito menos tinha uma máquina de fotos, mas olhei fixamente e la no fundinho do meu coração e da memória eu guardei aquele prato e aquele som que explodia mas não ressoava.

Pois é, agora eu posso dizer que virei gente grande!